REFORMA ÍNTIMA OBRIGATÓRIA

Era uma dor latente...
A pior das que já senti.
Perder quem nos faz bem é como se tirassem uma parte de nós e nos deixasse sangrar sem a mínima possibilidade de morrer. Eu estava enlouquecida. Estava viúva e sem condições de superar a perda. Era o primeiro dia após o ocorrido e naquela casa, onde nossos sonhos se iniciaram, todas as evidências me recordavam seu sorriso.
A dor é indescritível...
Que sofrimento insano!
E eu gritava seu nome, e chorava e amargava a sua ausência sabendo que não estava mais nesse mundo.Via seu sorriso e suas brincadeiras o tempo todo. Seu pijama bege, o mais usado, o que mais trazia as lembranças, estava ali, me fazendo sofrer e querer, de algum jeito, que você voltasse. O seu nome era uma espada que cortava o meu peito e meus gritos e choro se espalhavam pelo ar. Lembrei das discussões por coisas corriqueiras, casuais e lamentei por perder o tempo precioso com irritações, quando o amor poderia tomar esse lugar e trazer mais alegrias.
Lamentei por não dizer mais vezes que o amava e lamentei pelas brigas desnecessárias.
Podia fazê-lo sorrir ao invés de irritá-lo por coisas que não estavam no lugar. Podia tê-lo abraçado mais vezes ao invés de reclamar à toa. Podia ter agradecido suas gentilezas ao invés de cobrá-lo pelas coisas inacabadas.Mas era tarde demais para isso. O mundo tinha perdido uma jóia rara e eu, bom... eu perdi quem tanto me valorizou.
Amarguei momentos intermináveis de dor sobrenatural e percebi o quanto ele era importante para mim. Eu já sabia que o amava, mas não imaginava que o amor era maior do que eu poderia suportar. Recordo apenas que chorei, gritei seu nome várias vezes e dei vazão ao insuportável vazio e solidão que estava sentindo.
Pessoas me consolavam apenas com abraços, o suficiente para me dar forças. E clamei à Deus por um apoio...
Foi o beijo de compaixão de uma amiga querida e sua última pergunta: "Como você está?"
Minhas últimas palavras: "Sofrendo muito..."
Talvez, esse tenha sido o tiro de misericórdia para o fim do meu tormento...
Abri meus olhos, soluçando e tremendo, ainda com minhas fibras sentindo a estranha sensação de estar enlouquecendo, e vi, ali do meu lado, a pessoa tão querida, tão amada e que em momento algum, me abandonou!
E aos prantos, acordei em choque, feliz por não ter sido verdade!
E senti seus braços me protegendo, seu coração batendo constantemente e o apertei contra mim, com o medo ainda no peito... Talvez, o sonho fosse apenas uma "amostra grátis" do que seria a reforma íntima obrigatória cumprindo a promessa bíblica: Se não for por amor, será pela dor!
E tive a minha segunda chance, como renascer de um tormento.
A segunda chance de fazer tudo certo e não perder, de forma alguma, a oportunidade de ser feliz. A segunda e única chance de valorizar a pessoa como o tesouro mais precioso que há em toda a terra.
A única chance de transformar o meu íntimo em casa habitável, uma reforma necessária e indispensável antes que tudo desmorone. Então, entendi que não foi somente sonho, mas a misericórdia Divina que me concedeu o sofrimento necessário e a oportunidade de escolher o meu caminho.
Não foi apenas sonho!
Não foi ilusão. Foi real! A dor foi real! O sofrimento foi real e a decisão, agora é real! Eu quero essa reforma. Preciso dessa reforma. E abrir os olhos, na oportunidade de ver novamente aquele sorriso, é o único motivo que me impulsiona a ultrapassar as "minhas barreiras" para obter a mínima evolução para conquistar um pouco de felicidade e paz espiritual.
À você, razão da minha vida, que por amor me mostrou a dor da perda e a alegria de uma nova oportunidade, todo o meu esforço para sermos felizes, pelo menos um pouco...

Respeitar as pessoas é respeitar a si próprio. Perder a oportunidade de fazer algo positivo e deixar que a felicidade vá embora sem ao menos se despedir... Todos os dias recebemos novas oportunidades de acertarmos. Não precisamos perder para descobrir que poderíamos ter feito melhor...

Comentários

fernando disse…
CICLOS

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemosa alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se
acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a
casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão
longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em
sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos,seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha,seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos,
adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com
os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi
embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir
recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada
mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são
aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar,
decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão


Fernando Pessoa

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